Numa das margens do rio Lima, surgiu recentemente um contingente de soldados romanos, uma evocação à Lenda do Rio Lethes, o Rio do Esquecimento. Segundo a lenda, os soldados romanos, aqui chegados em 135 a.c., depararam-se com este curso de água que confundiram com o rio Lethes, conhecido por relegar para o esquecimento todas as memórias de quem o atravessasse. Receosos, os soldados recusaram-se à travessia. O seu comandante, Décio Juno Bruto, passou então para a outra margem e, aí instalado, chamou cada um dos soldados pelo seu nome, desfazendo desta forma o equívoco.
A lenda fez-me lembrar aquela mulher que vi ser entrevistada, a quem um AVC fulminante fez perder todas as memórias. A mulher dizia que, durante algum tempo, quando isenta de toda e qualquer lembrança, se sentira profundamente feliz e tranquila. E questionei-me: se este Rio do Esquecimento realmente existisse, haveria quem voluntariamente nele mergulhasse? Quem se deixasse abraçar pelas suas águas, em busca de uma paz feita de ausências? Haveria quem, mantendo incólume o corpo, suicidasse a alma?
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