domingo, 27 de maio de 2012

Bracara Augusta

Nos últimos dias, Braga parece ter viajado numa máquina do tempo, enchendo-se de romanas e romanos. O centro da cidade ganhou fôlego e vivacidade, uma animação que nem a chuva conseguiu esmorecer. Para além dos espectáculos de rua, o mercado romano traz muito apelo e umas receitas para a crise: chás para a tensão arterial e a angústia, doçuras para os amargos de boca, o resgate de um certo tipo de ludicidade. E para aqueles mais incomodados com a imprevisibilidade do presente, há uma rua pejada de tendas onde poderão pedir auxílio a troco de 20 ou 5 euros que, pelos vistos, nem o esoterismo escapa à lei de mercado.

sábado, 19 de maio de 2012

Velas e valsas

Henri de Toulouse-Lautrec, La Goulue and Valentin, Waltz



O navio desistiu de navegar contra a corrente e aliou-se ao vento e às águas; as suas velas estão agora enfunadas e ele avança, orgulhoso, sobre as ondas condescendentes. A sua velocidade é fruto do seu esforço e dos seus méritos ou dos méritos de forças externas? (...) A mulher que valsa abandona-se nos braços do seu hábil parceiro. A maravilhosa leveza da dança vem dela ou dele?

Karen Blixen, Sombras no Capim, RBA, p. 96.

sábado, 12 de maio de 2012

Porque é que perguntas?


A gente pergunta quando muito porque é que existem as coisas, o mundo e assim. Mas nunca perguntamos porque é que existe a própria razão e o seu modo de ser razão para se perguntar. Porque é que ela há-de ser assim, e não de outra maneira, porque é que existe a pergunta. (…) Mas se nós perguntamos, há-de ter um sentido isso, a pergunta. Não são só as coisas, o universo e tudo o que quiseres, é também o perguntares. Porque é que perguntas? (…) E então eu digo: porque isso é um facto como haver pedras. Portanto perguntar é necessário. E se é necessário, também é necessário querer achar uma resposta.

Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra, Bertrand Editora, p. 261.

[Um livro sobre os nossos maiores medos: a perda dos que amamos, pela morte ou pelo abandono, a degradação física e mental, a solidão. Um livro como um soco, doloroso e certeiro, a deixar um rasto de nódoas negras. Um livro cujo personagem principal não é apenas João Vieira: sou eu, somos todos nós.]

domingo, 6 de maio de 2012

Cá dentro







A felicidade não está no que acontece mas no que acontece em nós desse acontecer.


Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra, Bertrand Editora, p. 83.