quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Para todos...

Sem cara de pau, mas mantendo este largo sorriso, desejo a todos um Feliz Natal e um excelente 2011!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

(Des)Ordem natural

Chris Ofili, The Raising of Lazarus (2007)


Nascemos, vivemos, morremos.
Por vezes, não necessariamente nesta ordem.

(Anatomia de Grey, T5 – Ep.7)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Contentemo-nos

José Saramago fotografado por Sebastião Salgado, Lanzarote

A vida, qualquer vida, cria os seus próprios laços, diferentes de uma para outra, estabelece uma inércia que lhe é intrínseca, incompreensível para quem de fora criticamente observe segundo leis suas, por sua vez inacessíveis ao entendimento do observado, enfim, contentemo-nos com o pouco que formos capazes de compreender da vida dos outros, eles nos agradecem e talvez nos retribuam.

José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Caminho, p. 198

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A gente vai continuar*


A Gente Vai Continuar - letra e música de Jorge Palma

Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega a onde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada pra andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada pra andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
A liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

*Com um grande obrigada à A., pela partilha.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Peçonha

Quando a mentira nos envenena o sangue, é um alívio cortar as veias e deixar correr a peçonha.

Miguel Torga, O Segredo, da obra Pedras Lavradas, integrada na colectânea Contos, Dom Quixote, p. 541
[um dos melhores contos que li até hoje]

sábado, 20 de novembro de 2010

Entardecer

O Norte já anda frio e cinzento e este brevíssimo “intervalo dourado” por terras algarvias, apreciando o astro-rei na sua jornada descendente, soube mesmo bem. Ali perto, iam-se acendendo outros sóis, pequeninos e luminosos, a suprirem temporariamente a ausência daquele que, na sua missão inexorável, deve servir a muitos.



segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Lá de cima

Nunca tinha aterrado em Faro. Daí a minha enorme surpresa quando, lá de cima, me apercebi da magnífica arquitectura da Ria Formosa, estendida em frente à cidade. Uma descoberta festejada de forma animada com o senhor-inglês-residente-em-França que viajava a meu lado e que aprendeu uma palavra em português, por efeito de merecida repetição: “Lindo!”



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Da verdade

Que enganadas estavam sempre as pessoas que diziam: é melhor conhecer o pior do que continuar sem saber nem uma coisa nem outra. Não, não, não. Percebiam tudo ao contrário. Diga-me a verdade, senhor doutor, prefiro saber. Mas só se a verdade for o que eu quero ouvir.

Kingsley Amis, Jim o Sortudo, Biblioteca Sábado, p. 74

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Do Terreiro da Sé

Tenho para mim que o Carlos Tê deveria andar ali para os lados do Terreiro da Sé quando escreveu a letra do Porto Sentido. Está lá tudo: o "velho casario que se estende até ao mar", os "lampiões tristes e sós" e, sobretudo, a "luz bela e sombria".


sábado, 30 de outubro de 2010

Tentação, parte II

Les Enfants du Siècle (1999), de Diane Kurys

O filme traz à cena a história do amor tormentoso entre George Sand e Alfred de Musset. Aquele que, desafiando as convenções sociais, não conseguiu escapar à devassa de demónios pessoais. Amor intenso, intranquilo, condenado. Semelhante, talvez, ao ser frágil das borboletas, lembrado num dos diálogos:

AM: É linda a vida da borboleta. Apenas uns dias e passam-nos a dançar.
GS: Para se queimarem, quer dizer.
AM: Elas têm razão. A vida é muito curta para se ser pequeno.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tentação

The only way to get rid of a temptation is to yield to it. Resist it, and your soul grows sick with longing for the things it has forbidden to itself, with desire for what its monstrous laws have made monstrous and unlawful. It has been said that the great events of the world take place in the brain. It is in the brain only, that the great sins of the world take place also.

Oscar Wilde, The Picture of Dorian Gray, Penguin Books, 1994, p. 26

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Most boring city?

Quando lá voltei, no início de Setembro, as expectativas eram baixas, derivadas de uma primeira experiência que não deixou grandes impressões e reforçada por aquele artigo que a considerava a cidade mais aborrecida da Europa. Mas fui surpreendida e trouxe de lá uma nova perspectiva, mais positiva. Agora, já não direi taxativamente: “Não gosto de Birmingham”, mas avançarei com um: “Há por lá umas coisas que valem a pena.” Como diria alguém mais entendido nestas matérias, é bem provável que só à segunda tivesse começado a metabolizar a cidade.



1-Birmingham Museum and Art Gallery; 2 e 3 - Canais de Brindleyplace

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Clausura

Este é o tempo a que pomposamente chamo “clausura generativa”. Nesta fase, ganha mais sentido o que ouvíramos daqueles que viveram situações similares: “a travessia do deserto”, “o tempo da solidão”, os “dias de sacrifício”. Tudo verdade. E apesar de nos dizerem que compensaremos o tempo perdido, mantém-se uma percepção residual do irremediável. Aquela que se reforça quando, passando por um sítio de que se gosta, se lê assim:

Cada dia sem gozo não foi teu:
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!

Ricardo Reis

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Em boa hora!

É um dos meus escritores preferidos e ganhou o Nobel. Não posso deixar de expressar o meu contentamento! Ainda há pouco tempo, sem adivinhar, trazia aqui palavras suas, oriundas do digníssimo calhamaço de 630 páginas que me acompanhou durante as férias, Conversa n' A Catedral, que recomendo vivamente. Suponho que, ao contrário do que evoca a frase transcrita, hoje será, para ele, um dia de profunda satisfação.

sábado, 2 de outubro de 2010

Thoroughly well-informed man


… there is no doubt that Genius lasts longer than Beauty. That accounts for the fact that we all take such pains to over-educate ourselves. In the wild struggle for existence, we want to have something that endures, and so we fill our minds with rubbish and facts, in the silly hope of keeping our place. The thoroughly well-informed man – that is the modern ideal.

Oscar Wilde, The Picture of Dorian Gray, Penguin Books, 1994, p. 19

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vindima

Descobri que um dia de vindima pode ser pretexto para derivações várias:

- Confirma-se o dito popular: muita parra, pouca uva. Pelos vistos, a folhagem excessiva impede que o sol penetre e que o fruto cresça. Pois.
- O excesso de parra reclama muita atenção ao colector, que corre o risco de deixar para trás cachos válidos, escondidos sob camadas verdes. Pois.
- Por vezes, há cachos verdadeiramente desafiantes: as gavinhas enclavinham-se nos ramos e obrigam a persistência e delicadeza na colheita para salvar a integridade do fruto. Pois.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Faltas & sobras




Ninguém está satisfeito,
há sempre qualquer coisa que falta ou que sobra.


Mario Vargas Llosa, Conversa n’ A Catedral, D. Quixote, 2009, p. 339

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Elogio del Horizonte

Elogio del horizonte (1990), escultura de Eduardo Chillida, Gijón

Seguimos pela linha da praia e fomos subindo, com as águas safíricas por companhia. Lá no alto, uma estrutura insólita aguçou a curiosidade e o passo. Sólida, colossal, estrategicamente posicionada frente ao infinito. E ali perto, gravadas na pedra, as palavras do escultor, Eduardo Chillida:

Creo que el horizonte, visto de la forma que yo lo veo, podría ser la pátria de todos los hombres.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

El Maestro

Em tempo de regresso às aulas, emocionei-me com um conto do escritor galego Manuel Rivas acerca da fascinante viagem de aprender sobre as coisas da vida e acerca da importância dos mestres-companheiros de jornada. Fica apenas um aperitivo, mas garanto que vale muito a pena lê-lo integralmente, aqui.

El modo que tenía don Gregorio de mostrar un gran enfado era el silencio. «Si ustedes no se callan, tendré que callar yo».
Y iba cara al ventanal, con la mirada ausente, perdida en el Sinaí. Era un silencio prolongado, desasosegante, como si nos dejara abandonados en un extraño país. Sentí pronto que el silencio del maestro era el peor castigo imaginable. Porque todo lo que tocaba era un cuento atrapante. El cuento podía comenzar con una hoja de papel, después de pasar por el Amazonas y el sístole y diástole del corazón. Todo se enhebraba, todo tenía sentido. La hierba, la oveja, la lana, mi frío. Cuando el maestro se dirigía al mapamundi, nos quedábamos atentos como si se iluminara la pantalla del cine Rex. Sentíamos el miedo de los indios cuando escucharon por vez primera el relincho de los caballos y el estampido del arcabuz. Íbamos a lomo de los elefantes de Aníbal de Cartago por las nieves de los Alpes, camino de Roma. Luchamos con palos y piedras en Ponte Sampaio contra las tropas de Napoleón. Pero no todo eran guerras.
Hacíamos hoces y rejas de arado en las herrerías del Incio. Escribimos cancioneros de amor en Provenza y en el mar de Vigo. Construimos el Pórtico da Gloria. Plantamos las patatas que vinieron de América. Y a América emigramos cuando vino la peste de la patata.
«Las patatas vinieron de América», le dije a mi madre en el almuerzo, cuando dejó el plato delante mío.
«¡Que iban a venir de América! Siempre hubo patatas», sentenció ella.
«No. Antes se comían castañas. Y también vino de América el maíz». Era la primera vez que tenía clara la sensación de que, gracias al maestro, sabía cosas importantes de nuestro mundo que ellos, los padres, desconocían.

Manuel Rivas, La Lengua de las Mariposas

domingo, 12 de setembro de 2010

La Maternidad


Oviedo é uma cidade pejada de esculturas, de estilos e autorias diversas. Uma das mais conhecidas é esta, “La Maternidad”, de Fernando Botero, que se pode encontrar na Plaza de la Escandalera (mais uma delícia toponímica) e que serve de habitual ponto de encontro aos habitantes locais. Dela, algo me chamou particularmente a atenção: a direcção do olhar desta mãe. Dissemelhante de outros trabalhos artísticos que evocam a maternidade, esta figura materna não atenta no filho, mas olha em direcção oposta. Um olhar, contudo, centrado no filho, evocando vigilância e protecção? Ou o olhar que evoca o direito da mulher, também mãe, a olhar noutras direcções?

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Arte suprema

Tenho a impressão de que a única coisa que nos permite olhar este mundo em que vivemos sem asco é a beleza que, de vez em quando, os homens fazem brotar do caos. Os quadros que pintam, as músicas que compõem, os livros que escrevem e a vida que levam. De todas estas coisas a mais rica em beleza é a vida, quando é bela. É a obra de arte suprema.

Somerset Maugham, O Véu Pintado, Edições ASA, 2007, p. 229

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A febre continua


Há por esse mundo uma febre em torno de personagens fantásticas. Por Caminha, há já algum tempo teriam desconfiado do filão. Digo eu, que assim mais facilmente explico a toponímia de contornos anglo-saxónicos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tu és

Tu és o futuro, aurora imensa
sobre as planícies da eternidade.
Tu és o cantar do galo depois da noite da temporalidade,
o orvalho, a missa de alva e a mocidade,
o desconhecido, a mãe e a morte tensa.

Tu és a figura a se transformar,
do destino sempre solitária a se erguer,
que permanece por exaltar e por lamentar
e como floresta selvagem por descrever.

Tu és das coisas o cúmulo mais profundo,
que cala a última palavra do seu ser
e que aos outros sempre diferente se vai mostrando:
ao navio costa e à terra navio a aparecer.

Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, Assírio & Alvim, 2008, p. 241

sábado, 21 de agosto de 2010

Realidade abusadora

- Um dos meus pesadelos – confessou Vitorino, pensativo – é o de assistir a um debate na televisão entre um charlatão bem-falante e um médico gago… No dia seguinte toda a gente começa a dizer que a Medicina é uma treta… e a curar-se com picadas de lacrau…
- Estamos entregues à bicharada – rosnou o professor, cavo e rouco. E concluiu, sorumbático, de cabeça pendida: - A realidade é muito abusadora.

Mário de Carvalho, Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto, Caminho, 1999, p. 157

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Duas faces do mesmo Verão



Poucos dias e poucas dezenas de quilómetros fazem distar estas duas imagens, captadas em Viana do Castelo. Na primeira, um cenário apocalíptico com que nos deparámos, quando, depois de um corte na auto-estrada, atravessámos uma zona próxima de um incêndio de enormes proporções, repentino e violento, ameaçando já várias casas. Nenhuma imagem televisiva se poderá comparar ao cenário real: o desespero nas faces apanhadas desprevenidas, a atmosfera claustrofóbica, a pressa na busca de parcos instrumentos de protecção de si, dos seus, do seu. A nuvem espessa e enegrecida permanece durante muito tempo, também cá dentro, mesmo em momentos em que, como na segunda imagem, nos sentámos serenamente no meio de uma serra tranquila e pensámos: até quando poderá, também aqui, ser assim?

sábado, 31 de julho de 2010

Imodificável (?)

O homem vive, e corrige, ajusta, edifica, e destrói, algumas vezes, a sua vida; mas, passado tempo, dá-se conta de que o todo, tal como está, por força dos erros e do acaso, é imodificável. (…) Quando alguém emerge do passado para anunciar, em voz comovida, que quer pôr “tudo” em ordem, só podemos lamentar e sorrir das suas intenções; o tempo já tudo “pôs em ordem”, à sua estranha maneira, da única maneira possível.

Sándor Márai, A Herança de Eszter, Biblioteca Sábado, 2010, p. 81



Sándor Márai, por Tullio Pericoli


domingo, 25 de julho de 2010

15 segundos de fama

No passado dia 30 de Maio, depois de participarmos na Corrida da Mulher, e encontrando-nos a recarregar baterias ali para os lados da Praça da República, no Porto, somos acercadas por uma equipa de reportagem da TV Litoral, Brasil. O vídeo aqui postado documenta os 15 segundos de fama das três moçoilas, a mana, eu e a Isabel. A apresentação da praxe ocorre ali pelos 24’23’’ e a despedida, a minha parte preferida, pode ser visionada pelos 18’56’’. Reparem bem na forma profissional como publicitámos a estação de televisão e na competência no arremesso de beijinhos. Não há dúvida, acho que temos futuro :-)

Enjoy! I did!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Christopher "Gaga" Walken



A Lady Gaga que se cuide, tem aqui concorrência à altura. Na minha modesta opinião, só lhe faltam umas roupinhas à maneira e… the sky is the limit!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Do excesso

E era então que ele se refugiava intensamente na leitura de Schopenhauer e do Ecclesiastes. Porque? Sem dúvida porque ambos esses pessimistas o confirmavam nas conclusões que ele tirava de uma experiência paciente e rigorosa, “que tudo é vaidade ou dor, que quanto mais se sabe, mais se pena, e que ter sido rei de Jerusalém e obtido os gozos todos na vida só leva a maior amargura…” Mas porque rolara assim a tão escura desilusão – o saudável, rico, sereno e intelectual Jacinto? O velho escudeiro Grilo pretendia que “Sua Excelência sofria de fartura”.

Eça de Queirós, Civilização, em Contos, Bertrand Editora, 2008, p. 315

terça-feira, 13 de julho de 2010

Despojos

Vilarinho das Furnas, Parque Nacional da Peneda-Gerês

sábado, 10 de julho de 2010

Porque há espaços que nos ressuscitam


Vilarinho das Furnas, Parque Nacional Peneda-Gerês

Trânsito caprino

Carvalheira, Parque Nacional Peneda-Gerês

É costume dizer-se que para lá do Marão mandam os que lá estão. Ora, posso garantir que no Gerês se pode aplicar a mesma máxima. Por lá, mandam eles.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Armas? Não. Almas!

Antigamente, antes da invasão, raras vezes pensei em observar a sentinela do Arsenal: (…) era o seu andar, o seu derreado de ombros que me impressionavam… era a moleza lenta do passo, uma expressão contínua e evidente de tédio e de fadiga; (…) E esta visão do nosso soldado parece-me então alargar-se e abranger toda a cidade, todo o País! Foi esta sonolência lúgubre, este tédio, esta falta de decisão, de energia, esta indiferença cínica, este relaxamento da vontade, creio, que nos perderam…
Ainda hoje me soam aos ouvidos as acusações tantas vezes repetidas do tempo da luta: não tínhamos exército, nem esquadra, nem artilharia, nem defesas, nem armas!... Qual! O que não tínhamos era almas… Era isso que estava morto, apagado, adormecido, desnacionalizado, inerte… E quando num Estado as almas estão envilecidas e gastas – o que resta pouco vale.


Eça de Queirós, A Catástrofe, em Contos

sexta-feira, 2 de julho de 2010

MacChique

Algures, na Getreidegasse

Em Salzburgo, até os anúncios do comércio são sofisticados. Não resisti e cá trago o do Mac. E olhem que o da Zara não ficava nada atrás :-).

terça-feira, 29 de junho de 2010

240' em Salzburgo

240 preciosos minutos passados em Salzburgo, a apreciar a sua grandiosa e pitoresca beleza. 240 minutos passados a calcorrear a Getreidegasse pejada de turistas, a espreitar o seu famoso nº. 9, onde Mozart viu o mundo pela primeira vez, a percorrer o imenso Hohensalzburg Castle, a apreciar um pouco das margens do rio Salzach. Destes minutos, destacaria como mais luminosos aqueles passados entre o miradouro e o castelo, num percurso de um quilómetro pela mata, pontuado aqui e ali por um cenário de cortar a respiração. Este, o da fotografia.

E ali pelo meio, a lembrança: no mesmíssimo dia, no ano anterior, estava internada numa clínica, a recuperar de um ligeiro susto. A vida tem as suas graças. O que será que me estará reservado para o próximo ano? Talvez esteja a fazer o que é mais comum nos meus dias. Talvez porque a vida não é tipicamente vivida nos antípodas da experiência, entre uma cama de hospital ou um passeio em Salzburgo. Talvez a vida seja tão-somente feita de mediania. Talvez.

sábado, 26 de junho de 2010

Por terras da Alta Áustria

Linz não é uma cidade particularmente bonita, e foi uma decepção descobrir que o Danúbio, por estes lados, não é azul, mas castanho. O tempo também não ajudou, mantendo o cinzentismo durante os três dias que por lá estivemos. Ultrapassados estes pormenores, foi sempre a ganhar:
Uma comitiva portuguesa onde reinou o companheirismo e a boa disposição.
Uma equipa europeia com pessoas empenhadas, simpáticas e abertas a novas e diferentes perspectivas. E descobrir que, afinal, ninguém comunicou em inglês, mas noutra língua: o globish :-)
E não posso esquecer as tartes Linz, finalmente no original…
Não será uma cidade a que volte, para conhecer melhor. Mas deixou boas recordações.

Igreja de St. Ursula

A New Cathedral, ao fundo

Pormenor da Landstraße, a principal rua da cidade

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago, Imortal


(...) que se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias de futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala (...)

José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira

terça-feira, 15 de junho de 2010

Absolute clarity


A few times in my life I've had moments of absolute clarity, when for a few brief seconds the silence drowns out the noise and I can feel rather than think, and things seem so sharp and the world seems so fresh. I can never make these moments last. I cling to them, but like everything, they fade. I have lived my life on these moments. They pull me back to the present, and I realize that everything is exactly the way it was meant to be.

sábado, 12 de junho de 2010

Che fece... il gran rifiuto

Constantive Cavafy, retratado por Yiannis Kephallenos


Para alguns, entre nós, o implacável dia chega
da grande escolha, da grande decisão
de dizer Sim ou Não.
Aquele que em si sentir a sede de afirmar
pronuncie-se sem demora.
Os caminhos da vida abrir-se-ão para ele
numa cornucópia de benesses.
Mas o outro, o que nega,
ninguém o poderá acusar de falsidade,
e repetirá cada vez mais alto a sua descrença.
Está no seu direito – e, contudo, esta pequena diferença.
Um “Não” por um “Sim” – afunda uma vida inteira.


Constantine P. Cavafy (1901), citado por Lawrence Durrell em Clea

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Lovely and Loyal Award


A Margarida Elias, do blogue Memórias e Imagens lançou-me o desafio. Obrigada, Margarida, e cá seguem as respostas às perguntas:

1. Porque que é que criou um blogue e, quando o criou, tinha expectativas de que fosse popular?
Criei um blogue para partilhar algumas descobertas que vou fazendo, quer sob a forma de palavras, quer sob a forma de imagens. Não tinha qualquer expectativa de que fosse popular, aliás, o blogue esteve "às moscas" durante muitos meses e só recentemente foi ganhando vida.

2. Em que data exacta iniciou o blogue?
No dia 28 de Março de 2009, por influência de um amigo que, entretanto, está de férias do seu próprio blogue. Certo, N.? :)

3. Nomeie 5 seguidores leais.
Não são 5, são 3. Porque para além de parceiras de blogue, são amigas:

E agora, minhas caras, passo o desafio às 3.

domingo, 6 de junho de 2010

Chutem!

Rua do Loureiro, Porto

E façam bons passes. E boas recepções. E marcações cerradas. E desmarcações estratégicas. E bons dribles. E evitem os postes. E os fora de jogo. Defendam bem e ataquem melhor. E não se esqueçam de que o jogo deve ser limpo, que amarelos e vermelhos não são de nossa conveniência. E, sobretudo, acertem e façam as redes tremer com o impacto da Jabulani!!

Saudações cordiais, verdes e vermelhas.

A treinadora de sofá,
Sara

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ah! Os Relógios

Estação de S. Bento, Porto

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana, A Cor do Invisível

segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Receive with simplicity everything that happens to you"

A Serious Man (2009), de Ethan Coen e Joel Coen

The Uncertainty Principle. It proves we can't ever really know... what's going on. So it shouldn't bother you. Not being able to figure anything out. Although you will be responsible for this on the mid-term.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Diatribe contra o amor

Podem defini-lo como uma proliferação cancerosa de origem desconhecida que se desenvolve seja onde for, mal-grado a vítima. Quantas vezes não se tenta em vão amar a pessoa “conveniente”, mesmo quando o nosso coração sabe tê-la encontrado depois de tormentosa busca? Não, uma sobrancelha, um perfume, uma maneira de andar, um sinal no pescoço, um hálito de amêndoa – eis os cúmplices que o espírito procura para completar a nossa perda.

Lawrence Durrell, Clea

domingo, 23 de maio de 2010

Pelas margens do Lima

Acabou por ser uma pseudo-caminhada. Como disse a mana, foi uma caminhada à calaceira :-). É que nos fomos distraindo pelo caminho...



sexta-feira, 21 de maio de 2010

Timing

A Duquesa (2008), de Saul Dibb

Receio bem que, na minha vida, tenha feito algumas coisas demasiado tarde e outras demasiado cedo.

domingo, 16 de maio de 2010

Daltonismo moral

La Escalera de Poder, de Carlos Revenga (2009)

Dizer que um homem não tem escrúpulos implica que esse homem nasceu com escrúpulos e agora decidiu pô-los de parte. Mas pode conceber-se um homem manifestamente “nascido” sem consciência? Um homem “nascido” sem as faculdades ordinárias da alma?
(…)
Há homens cujos sentimentos se vaporizam em neblina, como se fossem premidos por um vaporizador; aqueles que os congelaram – “agulhas e alfinetes de coração”; outros nasceram sem a noção dos valores, os agora afectados de daltonismo moral. Os muito poderosos são assim frequentemente (…)

Lawrence Durrell, Mountolive

sexta-feira, 14 de maio de 2010

"mark twain!"


Na edição portuguesa da revista Intelligent Life surge um artigo de Laura Barton que analisa a ligação profunda de Mark Twain ao Mississippi, convenientemente intitulado Uma Vida e Um Rio. Dentre os vários pormenores biográficos, achei curioso aquele que revela o surgimento do pseudónimo do escritor, que espelha a força dessa ligação. Cá vai:

(...) Twain regressou a Hannibal e tirou o curso de piloto de barcos a vapor, tendo estudado cerca de 3200 quilómetros de rio antes de ter obtido a licença, em 1859. Conhecia aquelas águas como as palmas das mãos; adorava-as e elas davam-lhe segurança e inspiração. Até o seu pseudónimo de escritor foi tirado da terminologia dos barcos fluviais – o grito dos barqueiros, “mark twain!”, significava que a água tinha duas braças de profundidade e era seguro continuar.