Este é o tempo a que pomposamente chamo “clausura generativa”. Nesta fase, ganha mais sentido o que ouvíramos daqueles que viveram situações similares: “a travessia do deserto”, “o tempo da solidão”, os “dias de sacrifício”. Tudo verdade. E apesar de nos dizerem que compensaremos o tempo perdido, mantém-se uma percepção residual do irremediável. Aquela que se reforça quando, passando por um sítio de que se gosta, se lê assim:
Cada dia sem gozo não foi teu:
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
Ricardo Reis
Cada dia sem gozo não foi teu:
Foi só durares nele. Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
Ricardo Reis
Grande FERNANDO PESSOA e as suas "caras" !
ResponderEliminarUm beijo.
Ha que olhar para os prazeres simples da vida, sobretudo numa fase que o trabalho aperta. Talvez seja por isso que a maquina fotografica esteja sempre comigo (tem ajudado a educar o olhar e a atencao ao pormenor). Aquelas fotos em Utreque, por exemplo, foram tiradas num dia de muito stress...para que gozemos e vivamos todos os dias...;-)
ResponderEliminarDesejo-lhe uma semana cheia de pequenos-grandes prazeres! Uma musica, um aroma, um poema...muitos sorrisos ;-)
Compreendo essa clausura porque estou num barco semelhante...
ResponderEliminar"cada dia sem gozo não foi teu" faz-me pensar, nos dias que podem não ser meus no decurso do desenvolvimento dos meus filhos... e esses, irremediávelmente, já passaram.
Há que realmente, saber apreender os momentos mais ínfimos! Esperemos que façam toda a diferença.
bjs e clausura com Pessoa já não será, de todo, tão solitário
Sara,
ResponderEliminarA clausura é um estado que procuro muitas vezes. O silêncio apesar de doloroso acaba por repôr a ordem.
Desejo uns dias de paz em que as pequenas alegrias a façam sorrir! :)
Mais um
ResponderEliminarvagaroso instante
Bj
Não podia concordar mais com as qualidades que Pessoa enaltece. 'Bora lá seguir-lhe a sugestão e fruir das 'coisas mínimas', para que as grandes não nos apanhem demasiado 'embotados' :)
ResponderEliminarBeijinho grande!
Um lugar doloroso, como uma travessia no deserto, mas é preciso pensar: ainda assim é efémero. Faço o mesmo, por certo uma tese :)
ResponderEliminar~CC~
Cada dia é para ser vivido como se fosse o último, não é? Então, há que descobrir algo de bom, de belo em cada momento da nossa vida! (Ah, amiga, como isto é facil de dizer, mas fazer...)
ResponderEliminarAbraço
Engraçado.
ResponderEliminarNum mundo em que ao nosso redor tudo apela à voragem, ao consumo, à vertigem...saber parar e fazer um tempo de espera em si próprio...não é o mais vulgar!!!!
Mas é SÁBIO!!!!!!!!!!!
E o poeta tem plena razão!!!!
Tudo de BOM!!!!
vai passar rápido rápido;)
ResponderEliminare tamos juntas nesse barco!
depois vai ser ...relaxar...encostar o "encosto" e saborear as coisas boas, os momentos e a vida!
Pessoa é Pessoa, uma personalidade com "milhões" de heterónimos mas sempre único. E ponto final. Tem (quase, quase sempre razão. E uma pontaria que vem do passado para nos atingir no presente com "coisas" (rosas ou pedras, depende da circunstância).
ResponderEliminarO que mais me "salta à vista" deste post é a palavra "clausura", que em paisagismo, significa sempre um espaço mais protegido, mais ou menos reservado, para determinada actividade humana e, dizem (digo eu também), é essencial porque gera um sentimento que nos coloca entre os pontos extremos de duas fobias (a claustro e a agaro) que devemos evitar sempre, mesmo e principalmente quando "construímos" (como se fosse possível assim do pé para a mão ...) paisagens para o Homem.
Esta palavra tem que se lhe diga.
Um abraço.
Bom dia a todos,
ResponderEliminarfui seguindo com muito interesse as vossas reacções e comentários. Diferentes perspectivas acerca desta "clausura generativa" e daquilo que se pode extrair da vida, mesmo em fases em que tal extracção é uma tarefa mais exigente.
Sem me querer alongar demasiado, apenas reforço o meu agradecimento pela vossa presença aqui que, sem que o tivesse antecipado, vai-se constituindo enquanto oportunidade para breves escapadelas. :)
CCF, bem-vindo/a!
Sim, é uma dessas :)
E resta-me desejar-vos um bom fim-de-semana!
Amiiiiiiiiiiiigaaaaaaaaa, tás-me a ouvirrrr??
ResponderEliminarChega aí a Braga o meu desespero? O meu grito doloroso, estridente: Raios me partam! Que se identfique aquele que tão mal lhe fiz para merecer tamanha sina!!!!!!!!Bolas... Se não fossem mesmo os amigos, já estaria mas é a curtir uma demência tamanha, evidente na branca irremediavelmente sentida, em reacção à pergunta, ontem no consultório, aquando do preenchimento da ficha do doente: Qual a sua morada?R: silêncio!
Beijos.
Bem... depois disso, creio que a consulta deve ter sido rápida :) E aposto que sei qual foi o diagnóstico: tesis dementia :)
ResponderEliminarMas olha que isso tem cura, a médio prazo (sim!sim!sim!)
Beijo grande!
Cada dia deve ser vivido intensamente, amanhã já pode ser tarde.
ResponderEliminarMomentos houveram nos quais senti a solidão e aqueles que dei como tempo perdido. Mesmo assim, por vezes, entro em contradição e chego à conclusão que em ambas circunstancias fui feliz e consegui sacar algo positivo.
Um grande abraço da Valência do Cid Campeador
Muito obrigada, Duarte!
ResponderEliminarEspero também ser capaz de olhar para trás e ter uma percepção mais positiva (ou menos negativa) destes momentos mais penosos. Não os dou como tempo perdido, desde já, mas sim como um tempo que me afasta de pessoas e coisas importantes. O mais animador é a consciência de que se trata de uma "clausura" com um tempo demarcado, o que sempre ajuda :)
Um grande obrigada e um abraço de Bracara Augusta :)
Sara, depois de tanto, tenho pouco a dizer...mas volto ao (teu) princípio - que um senhor escreveu - "Procura a maravilha"; pois deve haver sempre tempo para ela: como o fazes aqui. E lembro, do mesmo: "Colhe todo o oiro do dia na haste mais alta da melancolia.". Um beijo companheiro e bom trabalho
ResponderEliminarÀs vezes, felizmente, é a "maravilha" que nos encontra, sob a forma de amigos cujas palavras nos alentam. Obrigada!
ResponderEliminarUm beijo saudoso de cá :)