domingo, 29 de abril de 2012

Espiral

Auguste Rodin, Eva | Museu Rodin, Paris

El mundo avanza en círculos, me dicen,
o es más bien que se mueve en espiral y por tanto no avanza,
se concentra o se dispersa interminablemente,
sin un fin ni un principio, sin objeto y sin sentido, sin porqué ni adónde.

La vida, entonces, vuelve a reencontrarse con lo que fue su origen,
su semilla, la medida de todos sus fracasos, el hueco donde caben nuestros miedos
y al que se ajustan nuestras esperanzas.

Y dando por supuesto que las cosas sean así, tan crudas y tan frágiles,
dime qué hacemos tú y yo aquí parados, soportando el embate de la nada,
el azote que nunca merecimos o ese dardo llamado indiferencia o mala suerte o época difícil.

Dime, aunque tengas que mentirme un poco, que no estamos perdidos,
que aún hay grietas por las que puede entrar algún consuelo,
que esto no es otro de esos callejones sin salida y sin luz donde espantarnos,
donde perder la fe y ganar el llanto.

Convénceme, prométeme la vida.

Amalia Bautista, retirado daqui

domingo, 22 de abril de 2012

Os mais-velhos

Um viajante é o quê?, num é aquele que vem de mais longe? Se você vem de longe, quantos caminhos é que você cruzou, quantas pessoas e o mundo delas, quantas visões você viu, quantas magias? O tempo, avilo, o tempo é essa estrada comprida que eu te falo, e quem vem de longe sempre já tropeçou em mais pedras e enfrentou mais lacraus. Mentira?

Ondjaki, Quantas Madrugadas Tem a Noite, Caminho, p. 154.

Parque das Termas da Curia, Anadia

domingo, 15 de abril de 2012

Florbela



É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!

Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!

Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...

Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...

Florbela Espanca, Poesia Completa, Bertrand, p. 337.

[A propósito do filme Florbela, realizado por Vicente Alves do Ó, com um notável desempenho de Dalila Carmo, a encarnar aquela que um dia terá afirmado não saber viver.]

terça-feira, 10 de abril de 2012

Sem rivalidade

A rivalidade entre Guimarães e Braga é conhecida aqui pelo Minho. E como é sobejamente sabido, as duas cidades detêm, em 2012, títulos de relevo, associados a iniciativas a condizer: uma é Capital Europeia da Cultura, a outra é Capital Europeia da Juventude. Coincidência? Competição? Creio que não. Tenho para mim que este foi um esforço concertado para visibilizar o Minho e Portugal. E para demonstrar que esta hipótese da concertação tem viabilidade, cá vem uma bracarense fazer a apologia de Guimarães, devidamente comprovada in loco: os monumentos, as praças, a gastronomia, o artesanato e as múltiplas iniciativas culturais serão excelentes motivos para passarem por lá. E, não se esqueçam, Braga é mesmo ali ao lado :-))


1. Paço dos Duques; 2. Praça da Oliveira (com o Padrão do Salado, ao fundo).

terça-feira, 3 de abril de 2012

Do que nada se sabe

A lua ignora que é tranquila e clara
e não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
ao abstracto xadrez como essa mão
que as rege. Talvez o destino humano,
breve alegria e longas odisseias,
seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
e truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
que eu sou? Que cume pode ser a meta?

Jorge Luis Borges, A Rosa Profunda

Fernando Botero, Male Torso | Centro das Artes Casa das Mudas, Calheta, Madeira