segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A febre continua


Há por esse mundo uma febre em torno de personagens fantásticas. Por Caminha, há já algum tempo teriam desconfiado do filão. Digo eu, que assim mais facilmente explico a toponímia de contornos anglo-saxónicos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tu és

Tu és o futuro, aurora imensa
sobre as planícies da eternidade.
Tu és o cantar do galo depois da noite da temporalidade,
o orvalho, a missa de alva e a mocidade,
o desconhecido, a mãe e a morte tensa.

Tu és a figura a se transformar,
do destino sempre solitária a se erguer,
que permanece por exaltar e por lamentar
e como floresta selvagem por descrever.

Tu és das coisas o cúmulo mais profundo,
que cala a última palavra do seu ser
e que aos outros sempre diferente se vai mostrando:
ao navio costa e à terra navio a aparecer.

Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, Assírio & Alvim, 2008, p. 241

sábado, 21 de agosto de 2010

Realidade abusadora

- Um dos meus pesadelos – confessou Vitorino, pensativo – é o de assistir a um debate na televisão entre um charlatão bem-falante e um médico gago… No dia seguinte toda a gente começa a dizer que a Medicina é uma treta… e a curar-se com picadas de lacrau…
- Estamos entregues à bicharada – rosnou o professor, cavo e rouco. E concluiu, sorumbático, de cabeça pendida: - A realidade é muito abusadora.

Mário de Carvalho, Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto, Caminho, 1999, p. 157

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Duas faces do mesmo Verão



Poucos dias e poucas dezenas de quilómetros fazem distar estas duas imagens, captadas em Viana do Castelo. Na primeira, um cenário apocalíptico com que nos deparámos, quando, depois de um corte na auto-estrada, atravessámos uma zona próxima de um incêndio de enormes proporções, repentino e violento, ameaçando já várias casas. Nenhuma imagem televisiva se poderá comparar ao cenário real: o desespero nas faces apanhadas desprevenidas, a atmosfera claustrofóbica, a pressa na busca de parcos instrumentos de protecção de si, dos seus, do seu. A nuvem espessa e enegrecida permanece durante muito tempo, também cá dentro, mesmo em momentos em que, como na segunda imagem, nos sentámos serenamente no meio de uma serra tranquila e pensámos: até quando poderá, também aqui, ser assim?