sábado, 28 de maio de 2011

Como é possível




Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.


Maria Teresa Horta, Vozes e Olhares no Feminino
(retirado daqui)





domingo, 22 de maio de 2011

Blessed



Blessed is the mind with something to occupy it other than its own dissatisfactions.

Susan Sontag, Reborn, Early Diaries 1947-1963,
Penguin, p. 305.


Fotografia de Annie Liebovitz

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Experiência radical

Desta vez não houve saltos de parapente, apesar do entusiasmo que uma tal perspectiva produziu em alguns elementos do grupo. Eu não era um desses elementos. Para mim, o “voo” é outro. É um voo em que os pés não se distanciam do chão e em que a adrenalina não se espraia pelas veias. E, ainda assim, eu voo. Os meus olhos são uma asa colorida, lançada sobre o abismo, planando por sobre a majestade da serra, ganhando ou perdendo altitude por imperativo da vontade. E quem disse que esta não é uma experiência, também ela, radical? :-)


Serra do Larouco, Montalegre

sábado, 7 de maio de 2011

Jogos do espírito

Pablo Picasso, O Sonho, 1932

À cabeceira dos doentes, acontecera-lhe muitas vezes ouvir contar sonhos. Também ele tivera os seus. As pessoas contentavam-se, geralmente, em extrair dessas visões presságios às vezes certos, dado que revelam os segredos daquele que sonha; ele, todavia, pensava para consigo que tais jogos de espírito entregue a si mesmo tinham, sobretudo, a possibilidade de revelar a maneira como a alma se apercebe das coisas. Punha-se a enumerar as qualidades das substâncias que via em sonhos; a leveza, a impalpabilidade, a incoerência, a total liberdade em relação ao tempo, a mobilidade de formas de uma pessoa, que faz que cada qual seja muitos, e vários se reduzam a um só, o sentimento quase platónico da reminiscência, o sentido quase insuportável de uma necessidade.

Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro, Planeta de Agostini, p. 194

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Aprender

Na língua chinesa, dois símbolos representam a palavra “aprender”. O primeiro significa “estudar” e é composto de duas partes: um símbolo que significa “acumular conhecimento” é colocado sobre outro que representa uma criança parada em uma porta, reflectindo, protegida e apoiada. O segundo símbolo significa “praticar constantemente” e mostra um pássaro desenvolvendo a capacidade de sair do ninho, experimentando. O símbolo de cima representa o voo, e o de baixo, a juventude.
(Senge, 2005)

[Encontrei este excerto na parte introdutória de uma tese de doutoramento. Achei extraordinário!]