quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ah! Os Relógios

Estação de S. Bento, Porto

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana, A Cor do Invisível

14 comentários:

  1. Tsmbém gosto muito de Mário Quintana. Descreve bem as "ditaduras" auto-impostas, a que não escapa a do relógio. "Necrológio" é um termo magnífico :) Boa Sexta (ainda de trabalho para nós, mas por pouco tempo :) ).
    Beijinho.

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  2. É muito bonito o poema. O tempo deixa de fazer sentido se for a poesia a determiná-lo.
    Boa noite!

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  3. R.
    também achei "necrológio" um termo muito bem achado. Um bom termo-síntese do próprio poema :)
    Bom fim-de-semana! (agora, sim, sem grandes trabalhos:))

    Ana,
    a sua frase é muito bonita, muito poética. Infelizmente, acho que é o próprio tempo a determinar muitas vezes a poesia...
    Um bom fim-se-semana!

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  4. Vivemos então em função de um "necrológio"?
    Bem pensado... e pensando desta forma, ainda mais arrepiante se torna! Tomar consciência deste facto deixa-me deveras angustiada....agora andamos todos de agendas debaixo dos braços; de agendas telefónicas; de agendas na cabeça (esta para quem pode, a minha já não leva mais datas e horas marcadas. Recuso-me!).
    Os relógios comandam as nossas vidas, indeed...
    E pobres de nós, seres humanos, ainda julgamos controlar o mundo... Que enganados estamos!
    bjs de fim de semana recheado de muitas horas descontroladas!!!!

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  5. Bom ângulo para uma foto magnifica e uma fotógrafa em crescendo de importância...
    Gosto de ângulos... Tornam os objectos vistos a partir de um zoom! o nosso Zoom...
    Pensando positivamente (o que sempre procuro retirar do negativo)HÁ HORAS FELIZES!!!
    bjs e já não monopolizo mais

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  6. Belíssimo poema! O tempo é mesmo uma invenção da morte, esquecemo-lo qundo nos entretemos a viver...
    Abraço:))

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  7. Pois é, C., não há dúvida de que vivemos escravizados pelos necrológios. A fotografia ilustra um daqueles que condiciona os meus dias. Outros existem...
    Felizmente, há horas mais libertas, em que os ponteiros ocupam um plano secundário. E essas, são, indubitavelmente, horas mais tranquilas.
    Obrigada, beijinhos e muitas horas felizes!

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  8. Justine,
    na impossibilidade de obliterar esta invenção, que outras se imponham - outras invenções, entretenimentos, poesias... - nessa missão essencial de, parafraseando o poeta, nos aproximar da eternidade.
    Obrigada e um abraço!

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  9. Mar Arável,
    acho que me vou ficar por palavras mais convencionais:
    Não há morte sem princípio
    Não há princípio sem morte.

    Um abraço!

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  10. Ah, os relógios, efectivamente! :-)))
    Boa semana!

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  11. Efectivamente... :)
    Boa semana mas, antes, um bom resto de Domingo!

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  12. (repetição)
    excelente: alinhamento em cima e diagonal sempre presente: amigo/a
    (beijo)

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  13. Com certeza: alinhados ou em diagonal, amigos verdadeiros, sempre e independentemente da forma como nos movemos no espaço da vida.
    Já sentia falta da tua criatividade por aqui :) Bem bom!

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