(...) que se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias de futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é a imortalidade de que tanto se fala (...)
José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira
Escolheu o melhor excerto desse livro.
ResponderEliminarBoa noite!
É um excerto que guardo desde que li o livro, pela sua forte ressonância pessoal. Hoje ganhou um novo sentido. A morte (também) tem destas coisas.
ResponderEliminarUma boa noite para si.
A imortalidade é condição digna da obra de alguns portugueses. Lamentavelmente, a memória nem sempre é perene. Pugnemos, pois, para que, neste caso, assim seja.
ResponderEliminarBeijinho e bom fim-de-semana.
Até sempre
ResponderEliminarSim, que a memória e o reconhecimento não pereçam, que encham "todos os dias de futuro", pois disso é amplamente merecedor.
ResponderEliminarOutro beijinho daqui e votos de um bom fim-de-semana.
Mar Arável,
ResponderEliminartambém vi a homenagem no seu espaço. Todas serão insuficientes, mas todas justificadas.
Olá Sara
ResponderEliminarSe conseguimos imortalidade através das palavras... não há dúvidas de que Saramago já a terá garantida.
Cabe-nos a nós, mortais, tornar esse estado de vida o mais infindável possível... trazer para a nossa História as grandes obras do escritor.
Um abraço e um bom fim-de-semana
Eu sabia que tu ias homenagear o escritor!;) já te conheço!
ResponderEliminarLi hoje o porquê do nome "Saramago", já que não deveria ter sido esse o nome do José de Sousa...Contado na própria pessoa:
Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago não era um apelido do lado paterno, mas sim a alcunha por que a família era conhecida na aldeia. Que indo meu pai a declarar no Registro Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. E que, desta maneira, finalmente, graças a uma intervenção por todas as mostras divinas, refiro-me, claro está, a Baco, deus do vinho e daqueles que se excedem a bebê-lo, não precisei de inventar um pseudônimo para, futuro havendo, assinar os meus livros. Sorte, grande sorte minha, foi não ter nascido em qualquer das famílias da Azinhaga que, naquele tempo e por muitos anos mais, tiveram de arrastar as obscenas alcunhas de Pichatada, Curroto e Caralhana. Entrei na vida marcado com este apelido de Saramago sem que a família o suspeitasse, e foi só aos sete anos, quando, para me matricular na instrução primária, foi necessário apresentar certidão de nascimento, que a verdade saiu nua do poço burocrático, com grande indignação de meu pai, a quem, desde que se tinha mudado para Lisboa, a alcunha desgostava. Mas o pior de tudo foi quando, chamando-se ele unicamente José de Sousa, como ver se podia nos seus papéis, a Lei, severa, desconfiada, quis saber por que bulas tinha ele então um filho cujo nome completo era Jose de Sousa Saramago. Assim intimado, e para que tudo ficasse no próprio, no são e no honesto, meu pai não teve outro remédio que proceder a uma nova inscrição do seu nome, passando a chamar-se, ele também, José de Sousa Saramago. Suponho que deverá ter sido este o único caso, na história da humanidade, em que foi o filho a dar o nome ao pai. Não nos serviu de muito, nem a nós nem a ela, porque meu pai, firme nas suas antipatias, sempre quis e conseguiu que o tratassem unicamente de Sousa.”
hasta la vista, camarada!
Em silêncio, resta-nos manter vivos os livros e as ideias...
ResponderEliminarObrigada a todas pelos vossos comentários, em apologia a um escritor que muito admiro. Um obrigada especial à Isabel que, por saber "o que a casa gasta", aqui trouxe este interessante excerto. Não fazia ideia disto.
ResponderEliminarUm bom fim-de-semana para todas!
Armazeno muitas frases suas, mas especialmente a que me disse quando nos cruzamos na Universidade Politécnica de Valência, onde foi investido Doctor Honoris Causa, e no momento em que me ouviu falar português, -que faz você por aquí? Nem nos deixaram falar... a multidão era considerável e a segurança esmerada.
ResponderEliminarInolvidável!!!
Notarei a usa ausência.
Um grande abraço para ti
Olá Duarte,
ResponderEliminarmuito obrigada por partilhar este momento, certamente inesquecível. Que pena não ter sido possível prolongarem o diálogo...
Um abraço e um bom fim-de-semana!