sexta-feira, 1 de julho de 2011

Posse incerta

...
Dizem meu como alguém gosta por vezes
de ao príncipe amigo chamar em conversa com camponeses,
quando este príncipe é muito grande e muito distante.
Dizem meu dos muros sem calor
e nem sequer conhecem de sua casa o senhor.
Dizem meu e a isso chamam posse num instante,
quando se fecha cada coisa de que sua mão se abeira,
tal como um charlatão de feira
que talvez ao sol chame seu e ao clarão relampejante.
Assim dizem: minha vida, minha mulher também,
meu cão, meu filho e no entanto sabem bem
que tudo: vida, mulher e cão e filho somente
estranhas criações são, em que cegamente
tocam de mãos estendidas, na incerteza. 
... 

Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, Assírio & Alvim, p. 273 

Forum des Halles, Paris

11 comentários:

  1. E nós concordamos em gênero, número e grau.

    5 bjs

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  2. Minha querida Sara
    Este texto poderia complementar o meu ou vice-versa...a posse nunca pode ser a aliança que une dois seres!
    Ando há uns dias para colocar um texto da mesma autora...mas outros se interpuseram...lol
    Quem é brilhante pode vir em qualquer altura que sempre será bem vindo...assim como Rilke
    bjs e bom fim de semana

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  3. Não se possuem pessoas... como se possuem coisas!
    E quem o pensar, engana-se redondamente!

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  4. Sara
    tens-me aqui de novo...:)
    Esqueci de comentar a tua foto...está um espanto... conseguiste capturar a imagem num jogo de espelhos. Muito interessante se pensarmos no texto. Parabéns e não te esqueças de desenvolver esta tua arte...
    bjs

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  5. Boa noite, Sara

    O Rainer tem textos maravilhoso.
    Leio-o regularmente.
    Acho magnífica a parceria que ele e Renoir fizeram já editada em Portugal num livrinho muito cuidado.

    Gostei deste poema.
    Escolha admirável.

    Bjs

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  6. Nada é tao "nosso" nessa vida como o que "nao é". Essa é a única certeza que tenho, amiga!
    Tu arrasou em arte nessa foto, esplendorosa!

    Boa semana, sara!

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  7. É curiosa mesmo esta coisa da posse ... posse de quê, ou mais dificilmente, posse de quem?

    Talvez tenhamos pouco mais que os nossos pensamentos e a nossa dignidade.

    Talvez tudo o resto sejam um enorme monte de tretas.

    Este "seu" espaço, está cada vez melhor.

    Um abraço e um desejo de um "entre-postadas" fantástico.

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  8. Sara,
    Venho agaradecer a sua visita. A única fotografia que está tratada é a da cabeça da Rainha, as outras foi mesmo como a câmara as apanhou.
    Gostei do Rilke, pois é para mim um poeta maior. Tenho este livro que folheio muitas vezes.
    O efeito fotográfico está fantástico.

    Uma boa semana para si, Sara!:)

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  9. Mais do que efectivamente possuímos, é frequentemente o que imaginamos possuir que nos identifica e tranquiliza. Também por isso as perdas podem ser tão duras. Mas a crença no vazio não será certamente produtiva. Algumas ilusões podem ser tão fundamentais quanto outras tantas certezas.
    [E, pronto, hoje deu-me para divagar ;)]
    Um grande beijinho e os votos de uma semana magnífica!

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  10. Vendi muita obra sua. Não é de leitura fácil, mas compensa, se existe continuidade.

    Fizeste uma boa eleição.

    Excelente a composição fotográfica!

    Beijinhos

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