Estavam os dois sentados, um em frente ao outro. Ele octogenário, ela mais nova, a uns dez anos de distância. Conversavam, ela ajudava-o a ler papéis. Ali pelo meio, ela inclinou-se na direcção dele, mãos firmemente apoiadas nos seus joelhos, num gesto talhado por uma história de cumplicidade. Olhou com pormenor a sua camisa e depois de se sentar, revelou: "Vou-te comprar outra camisa igual a essa". Ele abanou a cabeça, em concordância. Permaneceram em silêncio até que ele, atirando o queixo na direcção da manga do casaco dela, disse baixinho: "Olha isso". Ela seguiu o rasto do seu olhar e exclamando "Oh, é o forro", compôs-se, o aprumo procurado pela ponta dos dedos. Depois, recostou-se novamente.
Perco-me a observar o carinho entre os outros. Não posso deixar de pensar que há actos banalmente sublimes.
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