segunda-feira, 13 de abril de 2009

Faculdade de Irrelevância Comparada

“- É que Diotallevi e eu próprio estamos a projectar uma reforma do saber. Uma Faculdade de Irrelevância Comparada, em que se estudem matérias inúteis ou impossíveis. A faculdade destina-se a reproduzir estudiosos em condições de aumentarem até ao infinito o número das matérias irrelevantes.
- E quantos departamentos há?
- Por agora quatro, mas poderão conter todo o saber. O departamento de Tetrapiloctomia tem uma função preparatória, destina-se a educar as pessoas no sentido da irrelevância. Um departamento importante é o de Adynata ou Impossibilia. Por exemplo Urbanística Cigana e Hipismo Asteca… A essência da disciplina é a compreensão das razões profundas da sua impossibilidade. Eis portanto a Morfemática do Morse, História da Agricultura Antárctica, História da Pintura na Ilha de Páscoa, Literatura Suméria Contemporânea, Instituições de Docimologia Montessoriana, Filatelia Assírio-Babilónica, Tecnologia da Roda nos Impérios Pré-colombianos, Iconologia Braille, Fonética do Filme Mudo…
- O que diz de Psicologia das Multidões no Sara?
- Bom, disse Belbo.”

[Em O Pêndulo de Foucault (2008), p. 56, Biblioteca Sábado, trad. José Colaço Barreiros]

Um exercício acidamente sarcástico de Umberto Eco em relação à academia, cujos meandros tão bem conhece. Eu própria poderia apontar alguns “académicos”, capazes de desenvolver trabalho de incomensurável inutilidade nesta suposta faculdade.

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