domingo, 20 de novembro de 2011

Duplicidade

A grande maioria dos homens é obrigada a uma duplicidade constante, uma duplicidade erigida em sistema. Não é fácil, sem se dar cabo da saúde, aparentarmos, dia após dia, o contrário daquilo que sentimos realmente, deixarmo-nos crucificar por aquilo que não amamos, regozijarmo-nos com aquilo que nos entristece. O nosso sistema nervoso não é uma expressão vã ou uma invenção. É um corpo físico composto de nervos. A nossa alma situa-se no espaço e implanta-se em nós como os dentes nos maxilares. Não podemos violentá-la impunemente.

Boris Pasternak, O Doutor Jivago, Colecção Mil Folhas-Público, p. 510

Monção


12 comentários:

  1. Sendo assim acredito que viver para satisfazer os anseios do mundo, acabou por dar aos seres humanos o mal do século, a doença mãe de todas. É viver sem estar vivo, os maxilares foram por assim dizer a previsão do futuro, no qual hoje chamamos de presente. Acaba-se ensinando a suportar e não a viver.
    Seu texto é lindo.

    5 bjs

    ResponderEliminar
  2. A fotografia é linda!
    O texto é pungente. Há quem viva assim.
    Lembrou-me do auto-retrato de James Ensor. Não verbalizo mais nada porque o texto diz tudo e é um clássico intemporal.
    Beijinho e bom Domingo!

    ResponderEliminar
  3. Muito obrgada, ana, por esta partilha. Acho a sua associação muito feliz. Agradeço também "apresentar-me" este pintor, que desconhecia.
    Bom domingo! :))

    ResponderEliminar
  4. Sara
    fabulosos! A dialética foto e texto!!!
    O livro é um dos meus favoritos de sempre...lembras-te de Anna Karenina? Algo semelhante tb...estes livros entre outros marcaram-me muito na vida!
    Não acrescentarei mais nada para não tornar vulgar algo tão original!
    bjs e resto de um bom domingo:)

    ResponderEliminar
  5. Daí as depressões,daí as dilaceraçõews, daí os suicídios...E tanta gente a viver assim!

    ResponderEliminar
  6. É uma grande verdade. Viver em sociedade por vezes obriga a isso.

    ResponderEliminar
  7. Sara, seu novo post não entrou...TAMBÉM HÁ DIAS ASSIM.

    bjs

    ResponderEliminar
  8. O filme é soberbo (e já o revi umas dezenas de vezes ... principalmente a cena daquele comboio a atravessar os Urais ...). O Boris também, assim como a foto deste post, por motivos diversos mas apropriados.

    A frase final é uma boa ordem, ou pelo menos deveria estar na ordem do dia ... não nos deveríamos nunca esquecer que somos, principalmente e antes de mais nada, nós mesmos.

    Este é outro post com selo de qualidade!


    Abraço.

    ResponderEliminar
  9. So true, so true... e depois temos as depressoes e a infelicidade quase constantes...e agora lembrei-me de alguns casos...
    A foto e muito bonita, Sara. :-)
    Beijinhos!! :-)

    ResponderEliminar
  10. Uma grande obra literária.
    Um filme inolvidável.
    Um fragmento para meditar.

    Um grande abraço, sentido.

    ResponderEliminar
  11. Absolutamente de acordo. A incontornável indissociação corpo/mente, formulada como só a alguns cabe alcançar!

    Beijinho.

    ResponderEliminar
  12. E essa violentação paga-se sempre... cedo ou tarde!

    ResponderEliminar