quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sendo assim, boa continuação para todos!

Porque cada início
é só continuação
e o livro das ocorrências
está sempre aberto ao meio.
Wislawa Szymborska, excerto do poema Amor à Primeira Vista

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O encontro feliz de Elmer, Miró e Kandinsky

Esta criação plástica que aqui podem apreciar foi realizada por um grupo de crianças de 2 anos. Eu vou repetir: 2 anos! A actividade foi dinamizada pela A., minha amiga e colega, que foi até à creche do seu filhote, o T., oferecer este momento-prenda às crianças deste grupo. Houve convidados especiais: o Elmer, o Miró e o Kandinsky andaram por lá a dar uma ajuda.
O resultado é um hino à competência e criatividade das crianças, mediadas por um adulto que acredita, convida e envolve. Independentemente da idade, todas as crianças têm o direito a este "olhar", feito de respeito, crença e abertura ao fascínio que delas emana, a todo o momento. Porque, desde sempre, é neste olhar do Outro que nos vemos e revemos. Porque, para sempre, é este olhar que nos marca, de forma indelével.
Cá fica, com um agradecimento à A. por partilhar esta autêntica obra de arte e, sobretudo, as vivências que estiveram na sua génese. Cá fica, à laia de inspiração para 2010!

sábado, 26 de dezembro de 2009

Do cepticismo

Talvez estivessem certos ao porem o amor em livros (...). Talvez não pudesse subsistir em mais lado nenhum.

William Faulkner, A Luz em Agosto

Da resiliência

Parece que um homem aguenta quase tudo, a bem dizer. Até aguenta o que nunca chegou a fazer. Até aguenta pensar como algumas coisas são simplesmente demais para ele aguentar. Até aguenta o facto de que, mesmo se fosse capaz de simplesmente ceder à vontade de chorar, não o iria fazer. Até aguenta não olhar para trás, mesmo que saiba que tanto olhar para trás como não olhar não lhe fará bem nenhum.

William Faulkner, A Luz em Agosto

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Conta-me...

Margarida, está lindo o mar,
e o vento
traz a essência subtil da flor de laranjeira;
eu sinto
na alma uma cotovia a cantar:
a tua voz.
Margarida, vou contar-te
uma história.

Rubén Darío, excerto do poema A Margarita Debayle

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Trencadís

Pormenor do tecto da Sala Hipóstila - Parque Güell

Atentemos no modus faciendi destas bonitas composições:
Em primeiro lugar, reduzir a estilhaços azulejos de diferentes cores, processo do qual deverá resultar um conjunto aleatório de parcelas coloridas.
Em seguida, pegar nestas pequenas parcelas e criar uma nova gestalt, que se pretende mais harmoniosa, mais ordenada, mais criativa.
E estar preparado para aplicar à vida o mesmo procedimento, se se constatar necessidade e coragem: dividir em parcelas analisáveis e reconfigurar, criando um quadro compósito que faça mais sentido. Estilhaçar para harmonizar. ReCriar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Tarde (demais)

Pensei que, quando se deixa passar o momento certo, quando alguém recusou algo tempo demais, quando nos é recusado algo tempo demais, esse algo chega forçosamente demasiado tarde, mesmo que seja realmente desejado com força e acolhido com alegria. Talvez "tarde demais" não exista, apenas "tarde", e "tarde" seja sempre melhor do que "nunca"? Não sei.

Bernhard Schlink, O Leitor

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Entropia da secretária


Apesar de estar no 3º ano, era capaz de dizer que a entropia da minha secretária equivale a um 2º ano. Não está mal, há vantagens em se ser "arrumadinha". Contudo, e perante o aumento crescente da papelada, posso sempre ensaiar uma resposta à provável advertência acerca da bagunça: "Não, não se trata de bagunça. Trata-se tão somente de um nível elevado de entropia." Gostei do conceito! Permite camuflar a preguiça com laivos de sapiência.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O fascínio, ainda

Decían que era un tranvía el que había atropellado al viejo, que aún respiraba. A duras penas, fue evacuado a una casa de socorro que había tres calles más abajo.
No llevaba encima documentación alguna que le pudiera identificar. Solamente le encontraron, en un bolsillo de la americana, un puñado de pasas y cacahuetes. En el otro bolsillo, un libro arrugado: los Evangelios.
(...)
Pero el moribundo fue identificado al día seguiente por el capellán del Templo de la Sagrada Familia, Mosén Gil Parés: el desconocido no era sino el arquitecto Antoni Gaudí i Cornet, el constructor visionario del inacabado Templo de la Sagrada Familia.
A consecuencia del golpe causado por el tranvía, dos días más tarde, sobre las 5 de la tarde, Gaudí murió en la inhóspita cama de hierro de una pequeña habitación del hospital de los pobres.
J. Castellar-Gassol, Gaudí, La Vida de Un Visionario

domingo, 6 de dezembro de 2009

Canta da cabeça aos pés

Fado da Tristeza
Letra e música de José Mário Branco
In "Ser Solidário"

Não cantes alegrias a fingir
Se alguma dor existir
A roer dentro da toca
Deixa a tristeza sair
Pois só se aprende a sorrir
Com a verdade na boca

Quem canta uma alegria que não tem
Não conta nada a ninguém
Fala verdade a mentir
Cada alegria que inventas
Mata a verdade que tentas
Pois e tentar a fingir

Não cantes alegrias de encomenda
Que a vida não se remenda
Com morte que não morreu
Canta da cabeça aos pés
Canta com aquilo que és
Só podes dar o que é teu

Com um obrigada ao N., que um destes dias me deixou o cd em cima da secretária.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Gaudí i Cornet


Quando se visita Barcelona, o apelo turístico associado a Gaudí é incontornável. Todavia, e sem negar a grandiosidade e criatividade da obra, outra coisa me tocou de forma mais funda, raiando o espanto: tudo aquilo que os meus olhos tocavam havia sido zelosamente arquitectado no espaço de uma vida. Uma só.

Há obras extraordinárias. Mas há vidas que o são mais. Que desafiam as fronteiras do tempo e do espaço e nos atingem, tantos anos depois, com a força da paixão que as moveu.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pela parte que me toca, muito obrigada!


Naquela plaquinha dourada, diz mais ou menos assim:

Prémio Nuno Viegas do Nascimento, atribuído pela Fundação Bissaya Barreto à
Associação Criança, pela obra
"Escutando as Crianças, Formando os Profissionais"

Foi uma comoção!

Vozes do Suburbano #3

Estavam os dois sentados, um em frente ao outro. Ele octogenário, ela mais nova, a uns dez anos de distância. Conversavam, ela ajudava-o a ler papéis. Ali pelo meio, ela inclinou-se na direcção dele, mãos firmemente apoiadas nos seus joelhos, num gesto talhado por uma história de cumplicidade. Olhou com pormenor a sua camisa e depois de se sentar, revelou: "Vou-te comprar outra camisa igual a essa". Ele abanou a cabeça, em concordância. Permaneceram em silêncio até que ele, atirando o queixo na direcção da manga do casaco dela, disse baixinho: "Olha isso". Ela seguiu o rasto do seu olhar e exclamando "Oh, é o forro", compôs-se, o aprumo procurado pela ponta dos dedos. Depois, recostou-se novamente.
Perco-me a observar o carinho entre os outros. Não posso deixar de pensar que há actos banalmente sublimes.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Do sagrado

Mas a detracção daqueles a quem amamos sempre nos separa um pouco deles. Não se deve mexer nos ídolos: o dourado fica-nos agarrado às mãos.

Gustave Flaubert, Madame Bovary

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Apoio

Ando a ler uma tradução francesa de um livro italiano.
Nunca li tantas vezes a palavra soutien.
Já agora, e para prevenir qualquer equívoco, o livro é sobre Pedagogia Intercultural.

domingo, 15 de novembro de 2009

Abrir perspectivas (a todos), por Lévi-Strauss


Falecido recentemente, Claude Lévi-Strauss deixou um poderoso legado. Em dois dos seus artigos, publicados originalmente no The UNESCO Courier*, discorreu acerca da responsabilidade social da ciência em abrir perspectivas à humanidade. A toda a humanidade.
The efforts of science should not only enable mankind to surpass itself; they must also help those who lag behind to catch up. (1951)

The contribution of our sciences will be evaluated, not using dubious methods that are subject to the whims of the day, but according to the new perspectives that they will be able to open to humanity, so that it may better understand its own nature and its history, and therefore also judge it. (1956)

*Re-editados em número especial do The UNESCO Courier, em atempada homenagem sob o título Claude Lévy-Strauss: The view from afar (2008, nº 5)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Opacidades

Mesquita Machado, re-eleito Presidente da Câmara Municipal de Braga, foi entrevistado por Fernando Esteves e Nuno Tiago Pinto para a revista Sábado. Foi uma entrevista belicosa, feita de opacidades, não fosse a frase "Não me pronuncio sobre isso" aquela que mais vezes foi regurgitada pelo autarca. O remate será, muito provavelmente, a minha parte preferida:
Continua a jogar muito à sueca?
Isso é um problema meu, pá. Faz parte dos meus vícios.
Ainda joga todos os dias?
Como é que podia? Sempre que posso jogo uma ou duas vezes por semana.
Nunca teve a tentação de fazer batota?
Não. Nunca gostei de fazer batota na vida.
Provavelmente, Sr. Presidente, o carácter enfático da resposta não passará de outra forma de opacidade.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Epifania

Emma vivia encarcerada num casamento, cirandando entre ideais de burguesia faustosa e uma profunda melancolia (Não sei se quero morrer se quero ir para Paris). Ao conhecer Léon, não o reconhece. Até ao dia.

O amor, segundo acreditava, devia surgir de repente, com grande tumulto e fulgurações - tempestade dos céus que cai sobre a vida e a revolve, arranca as vontades como folhas e arrebata para o abismo o coração inteiro. Não sabia que, nos terraços das casas, a chuva forma lagos quando as goteiras estão entupidas, e assim vivia confiada na sua segurança, quando subitamente descobriu uma fenda na parede.

Gustave Flaubert, Madame Bovary

domingo, 8 de novembro de 2009

Por Coimbra


Ontem estive por Coimbra, na Fundação Bissaya Barreto, para falar um pouco e ouvir bastante mais. Pelo convite, obrigada à Lúcia. Pela prenda, obrigada à Inês, a criadora de 5 anos. Esta risonha policromia já valeu o desgaste do dia.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Aplausos

Aqui é lindo, as pombas batem palmas quando levantam voo.

sábado, 31 de outubro de 2009

Gafe diplomática

Mia Couto, em entrevista ao Folha de S. Paulo:

E por quê o apelido "Mia"?
MC: Por causa dos gatos. Eu era miúdo, tinha dois ou três anos e pensava que era um gato, comia com os gatos. Meus pais tinham que me puxar para o lado e me dizer que eu não era um gato. E isto ficou. Eu, lá fora, sou sempre esperado como preto ou como mulher.
Certa vez, numa delegação de Samora Machel, que foi daqui visitar Fidel Castro, eu fui o único homem na vida a quem Fidel Castro deu saias e colares e brincos, pensando que eu era mulher.

Posso adiantar que, depois de o ter visto recentemente na Centésima Página, a apresentar o Jesusalém, saias e colares não combinam, definitivamente, com este senhor.
E agora que já parei de rir, vou ali dedicar-me a umas notas de campo que necessitam ser analissecadas. E que tal esta, Emílio? Fraquita, não? Pois. O melhor será continuar a dedicar-me às teses, certo? Pois.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

S&S


Somos manas, nossa alma está separada apenas por um corpo.

Mia Couto, Dois Corações, Uma Caligrafia, em Na Berma de Nenhuma Estrada e Outros Contos

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mãe por Mia

Mas ela desviou o olhar, que essa é a competência de mãe: o não enxergar nunca a curva onde o escuro faz extinguir o mundo.
Mia Couto, O Menino no Sapatinho, em Na Berma de Nenhuma Estrada e Outros Contos

domingo, 25 de outubro de 2009

De ovos e outras carências

Annie Hall (1977), de Woody Allen

I thought of that old joke, you know, this guy goes to a psychiatrist and says, "Doc, my brother' s crazy, he thinks he's a chicken." And the doctor says, "Well, why don't you turn him in?" The guy says, "I would , but I need the eggs." Well, I guess that's pretty much now how I feel about relashionships; you know, they're totally irrational, and crazy, and absurd... but I guess we keep goin' through it because most of us... need the eggs.

sábado, 24 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Do "lion" da vez

Quantas lacunas em toda a harmonia!
Oscar Wilde, O Crime de Lorde Artur Savile, em O Crime de Lorde Artur Savile e Outros Contos

terça-feira, 13 de outubro de 2009

All time is unredeemable

I

Time present and time past
Are both perhaps present in time future,
And time future contained in time past.
If all time is eternally present
All time is unredeemable.
What might have been is an abstraction
Remaining a perpetual possibility
Only in a world of speculation.
What might have been and what has been
Point to one end, which is always present.
Footfalls echo in the memory
Down the passage which we did not take
Towards the door we never opened
Into the rose-garden. My words echo
Thus, in your mind.

T. S. Eliot
Excerto de Burnt Norton, nº 1 de Four Quartets (1943)

sábado, 10 de outubro de 2009

In memoriam

Pormenor do Jardim dos Sentimentos, Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Pontos de interrogação

Gertrude Stein, on her deathbed, asked her lifelong companion, Alice B. Toklas, "What is the answer?" And when Alice could not bring herself to speak, Gertrude asked, "In that case, what is the question?"

Fontana & Frey (1994)

domingo, 4 de outubro de 2009

Ainda não cheguei a perua


Trabalhar ao Domingo é dureza.
Mas depois vi isto que o F. me enviou.
E sorri.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tough science

We thrive in information-thick worlds because of our marvellous and everyday capacities to select, edit, single out, structure, highlight, group, pair, merge, harmonize, synthesize, focus, organize, condense, reduce, boil down, choose, categorize, catalog, classify, refine, abstract, scan, look into, idealize, isolate, discriminate, distinguish, screen, sort, pick over, group, pigeonhole, integrate, blend, average, filter, lump, skip, smooth, chunk, inspect, approximate, cluster, aggregate, outline, summarize, itemize, review, dip into, flip through, browse, glance into, leaf through, skim, list, glean, synopsize, winnow wheat from chaff, and separate the sheep from the goats.
Tufte, 1990, p. 50

E lá se vai o fim-de-semana prolongado.

domingo, 27 de setembro de 2009

Dúvida

Jean Seberg, em O Acossado (1959), de Jean-Luc Godard

Não sei se estou triste por não ser livre,
ou se não sou livre por estar triste.

sábado, 26 de setembro de 2009

Ressalvando as devidas distâncias...

Roko, por Victor Pulido, na XV Bienal de Cerveira

Vida canina, na aldeia de Padroso, Montalegre

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Poesia dela

Qualquer dia chegaremos ao apuro
de termos pena de nós próprios.

David Mourão-Ferreira, Um Amor Feliz

Solilóquio do Escultor

Que destino, então, para essa estátua? Talvez alguma ábside do Purgatório, alguma "loggia" do Paraíso... Talvez ainda, mais terra a terra, o simples santuário do próprio Universo, readquirida que fosse, não sei por que milagre, a função mágica de quanto é belo, de quanto mereceria não ser efémero.
David Mourão-Ferreira, Um Amor Feliz

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Casa das Histórias

Paula Rego, A Casa de Celestina (2000-2001)

Nós somos as próprias histórias, diz Paula Rego.
E ela, uma notável contadora.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Estado de (des)graça

Porque também é possível estar grávida de ideias. E viver um penoso trabalho de parto.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Homenagem a uma contestatária


Uma das minhas personagens preferidas da BD tem agora uma estátua num jardim de Buenos Aires, justamente em frente à casa que Quino habitou durante alguns anos.
Para mim, as suas tiras ficarão sempre associadas às noites insones pré-defesa de tese de mestrado, em que o seu humor precocemente contestatário preveniu vários fanicos. E o maciço O Mundo de Mafalda, oferecido pela mana, continua na estante, num ponto acessível. Just in case.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O enlevo de ser levado

Uma pessoa lê para ficar deslumbrada. Uma pessoa lê para ficar noutro estado. Para sair de si própria. Uma pessoa lê para estar noutro mundo. Para entrar noutro estado. E, no caso das coisas muito bem escritas, num enlevo. Há um enlevo de ser levado.
Miguel Esteves Cardoso, em entrevista a Carlos Vaz Marques, na revista Ler

sábado, 12 de setembro de 2009

A exigir resposta depurada

Depois acalmou; deixou de chorar, deixou até de respirar, e todo ele foi atenção, como se apurasse o ouvido para uma voz silenciosa, a voz da sua alma, para o desenrolar de pensamentos que dentro dele se elevavam.
"De que precisas tu?" Foi esta a primeira ideia clara, capaz de ser expressa em palavras, que ele ouviu. "De que precisas tu? De que precisas tu?" repetia ele. "De quê?"

Lev Tolstoi, A Morte de Ivan Ilitch

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Le Penseur


Lá estava ele, imerso nos seus pensamentos, numa das salas do Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Estrasburgo. Que me inspire, em densidade e serenidade, nos próximos meses. Vou precisar.

domingo, 6 de setembro de 2009

(Breves) apontamentos sobre Estrasburgo





- Há por aquelas terras uma catedral magnífica, de grés cor-de-rosa e com portas vermelhas
- E maison à colombine, que parecem directamente retiradas de um conto dos irmãos Grimm
- E um Reno de margens respeitadas
- E o restaurante mais bonito do mundo
- E tartes flambées, tartes Linz... e Riesling
Já se nota que gostei? É que posso continuar a apontar...

sábado, 5 de setembro de 2009

Engenho caminhense



Pneus empilhados, tábuas e pedras. Assim se inventa um pequeno cais... frágil, mas inverosimilmente operacional.
E um pequeno tronco, estrategicamente erguido, é a muleta necessária à corda da roupa.
Em Caminha, é possível encontrar exemplos curiosos de desenrascanço, perdão, de engenho lusitano.

sábado, 15 de agosto de 2009

Two Lovers

Baseado num conto de Dostoievski, com Amália na banda sonora, uma belíssima realização de James Gray e um extraordinário desempenho de Joaquin Phoenix. Espero que, ao contrário do que "ameaçou", este não seja o seu derradeiro contributo para a sétima arte.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Summary of worldly wisdom

Ali pelo meio de uma penosa revisão da literatura, tornada ainda mais penosa porque feita sob o signo das férias e com um sol sedutor lá fora, encontrei este bocadinho:
My advisor in graduate school used to recite the tale of a king who summoned his wisest scientists and asked them to produce a summary of their worldly wisdom for him. After much debate and consideration, the wise council put before the king a thick, heavy manuscript. "This is too long," said the king, and ordered them away to hammer out an abbreviated, more accessible version. The wise council returned a few months later, having distilled the contents of their manuscript into one summary sentence: "This too shall pass." "Too long," insisted the king, and sent them back to revise and re-submit. Several months later, the counsel returned, this time with a single page, containing a single word: "maybe".
(Shpancer, 2006, p. 243)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

domingo, 9 de agosto de 2009

sábado, 8 de agosto de 2009

Paredes vazias

Era óbvio que ninguém mais se atreveria a entrar num quarto onde Gregor se sentia senhor absoluto de todas as paredes vazias.

Franz Kafka, A Metamorfose

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A notícia

Cruzámo-nos com ela numa das ruas estreitas de Pitões das Júnias, serenamente sentada num muro baixo. Deixou-se fotografar e pediu para ver as fotografias. Contou-nos dos seus 89 anos. Do marido que morrera havia 30. Das 3 filhas bem casadas. Da filha que falecera. Enquanto conversávamos, trouxeram-lhe a notícia: entes queridos acabavam de chegar de França. O seu rosto iluminou-se, como poucas vezes vi. Abriu os braços e depois cruzou-os sobre o peito, como a tentar reter a torrente de alegria que de si brotara. Levantou-se, firmou-se no seu fiel de madeira e, lentamente, foi ao encontro daqueles que lhe apaziguariam a solidão durante algum tempo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Por terras barrosãs

Foram dois dias de tranquilidade retemperadora. De olhares perdidos na imensidão da serrania e na solidez silenciosa das aldeias. De sentir a água fria das fontes e degustar os sabores da mesa. De ouvir histórias da História e viver a cultura na era digital. Sobretudo, de sentir o aconchego de gentes hospitaleiras… mesmo no pico gelado do Larouco.
E tudo graças à Zabu, a nossa organizadora e guia. A amiga que traz tanta generosidade no coração que ele se torna pequeno para, sozinho, a albergar, fazendo com que, a par e passo, transborde para o seu imenso sorriso.

Barragem de Pisões

Montalegre

Paredes do Rio

Padornelos
Pitões das Júnias

terça-feira, 28 de julho de 2009

Women in Art

Hoje chegou-me isto ao email. Como não sei fazer download de videos, vai mesmo assim. Pela vossa rica saúde, não percam isto.

domingo, 19 de julho de 2009

E Onofre Bouvila conclui...

Eu julgava que sendo mau teria o mundo nas mãos e no entanto enganava-me: o mundo é pior que eu.

Eduardo Mendoza, A Cidade dos Prodígios

sábado, 18 de julho de 2009

Rivalidade no feminino

Sarah Bernhardt, por Nadar

A fama de Mata Hari como espia não tardou a ultrapassar a sua fama como bailarina; choveram-lhe contratos de todo o mundo e a sua cotação chegou a exceder a de Sarah Bernhardt, coisa que uns anos atrás se teria revelado impensável. A rivalidade entre ambas as divas foi durante muito tempo o assunto de murmuração de Paris inteiro. Assim, quando em 1915 foi preciso amputar uma perna a Sarah Bernhardt, disse-se que esta tinha exclamado: Agora finalmente poderei dançar com tanta graciosidade como a Mata Hari.

Eduardo Mendoza, A Cidade dos Prodígios


terça-feira, 14 de julho de 2009

A dor..................

A dor cumpre sempre o que promete.

O Homem de Areia (2007), de José Manuel González

domingo, 12 de julho de 2009

Rio do Esquecimento

Numa das margens do rio Lima, surgiu recentemente um contingente de soldados romanos, uma evocação à Lenda do Rio Lethes, o Rio do Esquecimento. Segundo a lenda, os soldados romanos, aqui chegados em 135 a.c., depararam-se com este curso de água que confundiram com o rio Lethes, conhecido por relegar para o esquecimento todas as memórias de quem o atravessasse. Receosos, os soldados recusaram-se à travessia. O seu comandante, Décio Juno Bruto, passou então para a outra margem e, aí instalado, chamou cada um dos soldados pelo seu nome, desfazendo desta forma o equívoco.
A lenda fez-me lembrar aquela mulher que vi ser entrevistada, a quem um AVC fulminante fez perder todas as memórias. A mulher dizia que, durante algum tempo, quando isenta de toda e qualquer lembrança, se sentira profundamente feliz e tranquila. E questionei-me: se este Rio do Esquecimento realmente existisse, haveria quem voluntariamente nele mergulhasse? Quem se deixasse abraçar pelas suas águas, em busca de uma paz feita de ausências? Haveria quem, mantendo incólume o corpo, suicidasse a alma?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O título

Nunca ouvi o CD. Conheço mal as cantoras. Mas apaixonei-me pelo título.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Rua das Estrelas, s/n

Na Praça da Trindade, mesmo à entrada da estação de metro, ergueu-se hoje uma enorme bolha branca. Lendo os prospectos que me entregaram quando lá passava, descobri tratar-se de um planetário portátil, que aqui permanecerá durante dois dias, a divulgar iniciativas do Planetário do Porto. Em redor desta estrutura, pontuam algumas frases de famosos, como esta, que li de relance:
Somos todos feitos de estrelas
(Moby)
Vasculhando os prospectos ainda descobri que o Planetário do Porto se situa na Rua das Estrelas, s/n. Quão adequado!

domingo, 5 de julho de 2009

Boas intenções

All I really want to do
(letra de Bob Dylan)

I ain't lookin' to compete with you,
Beat or cheat or mistreat you,
Simplify you, classify you,
Deny, defy or crucify you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

No, and I ain't lookin' to fight with you,
Frighten you or tighten you,
Drag you down or drain you down,
Chain you down or bring you down.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

I ain't lookin' to block you up
Shock or knock or lock you up,
Analyze you, categorize you,
Finalize you or advertise you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

I don't want to straight-face you,
Race or chase you, track or trace you,
Or disgrace you or displace you,
Or define you or confine you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

I don't want to meet your kin,
Make you spin or do you in,
Or select you or dissect you,
Or inspect you or reject you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

I don't want to fake you out,
Take or shake or forsake you out,
I ain't lookin' for you to feel like me,
See like me or be like me.
All I really want to doIs, baby, be friends with you.

sábado, 4 de julho de 2009

Ruídos avulsos

Maria Filomena Mónica em entrevista a Anabela Mota Ribeiro: Nunca estamos sozinhos diante do que quer que seja: a nossa memória está sempre povoada de ruídos avulsos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Parei

Parei por causa de uma pedrinha
Uma só
Minúscula
Uma pedrinha tinhosa
Meio grão de arroz rebelde
Uma centelha de matéria paralisante

Didn’t see it coming… no, I didn’t.

sábado, 20 de junho de 2009

Quando a adversidade se transforma em promessa…

Bella (2006), de Alejandro Gomez Monteverde

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Holly Pregnant

Não costumo deter-me nas capas. Apenas o suficiente para captar o nome do autor e o título da obra. Ontem à noite, porém, antes de ler o primeiro conto, descobri que uma pintora irlandesa, Pauline Bewick, pintou “Holly Pregnant”. No seu site oficial, é referido que é uma das artistas convidadas para estar em Dezembro na Bienal de Arte Contemporânea de Florença. Ora aí está um sítio onde não me importaria mesmo nada de apreciar as suas criações, ao vivo e a cores.

domingo, 14 de junho de 2009

On angels

A promessa (2001), de Sean Penn

O momento alto do filme é ver e ouvir Vanessa Redgrave a citar palavras do conto The Angel, de Hans Christian Anderson.
Whenever a good child dies, an angel of God comes down from heaven, takes the dead child in his arms, spreads out his great white wings, and flies with him over all the places which the child had loved during his life.
Um minuto de maravilha.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pandemia

A OMS declarou “estado de pandemia” devido à gripe A H1N1. Por mero acaso, comecei a ler esta semana “A Peste Escarlate”, de Jack London. Um cenário apocalíptico criado pelo escritor, após o planeta ser ferozmente devassado por um vírus, que deixa pouquíssimos sobreviventes e poucas marcas civilizacionais. Neste caso, sim, poderá ser apaziguador dizer que qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência.

Natureza... lacrimosa


Rosas bravas


A infância… os muros ornados de cor-de-rosa, garrido ou pálido, escondendo sazonalmente uma feiura granítica… as gotas de sangue que se entreviam quando as tentávamos colher de forma mais desajeitada… as tranças escuras entremeadas de alegria… a avó a contar a lenda da rainha, “São rosas, senhor, são rosas”. Não me perguntem porquê, mas sempre tive a certeza que seriam rosas bravas a cair do regaço de Isabel.

domingo, 7 de junho de 2009

Livros nos Aliados

Aproveitei a hora de almoço de um destes dias e fui à Feira do Livro do Porto. Achei fraquinha, mas, ainda assim, regressei bem acompanhada: Oscar Wilde, Iris Murdoch, Pirandello, Eça e Pessoa. Resta-me agora fintar o tempo…

A propósito, um aviso a editoras mais assanhadas: por favor, não me tentem impingir livros. A minha escolha é pessoal e raramente sujeita a constrangimentos publicitários. E, ademais, enquanto estou a “namorá-los”, aos livros entenda-se, não gosto de ser interrompida. É uma coisa privada, estão a ver? Feita em recato e silêncio, desprovida de qualquer pressão. Ou é assim ou não é.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Vozes do Suburbano #2

O que nós precisavamos era de um referendo sobre a monarquia. Se estivessemos numa monarquia, estaríamos muito melhor. Assim é complicado. Já dizia um imperador romano: "Não sei quem são aqueles lusitanos, que não se dominam, nem se deixam dominar".

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Para quê?

Os Filhos do Homem (2006), de Alfonso Cuarón

Para quê ralarmo-nos, se a vida vai fazer as suas opções?

domingo, 31 de maio de 2009

Avé Bracara


Por estes dias Braga vê-se inundada de romanos. Gladiadores, centuriões, matronas, cortesãs e, sobretudo, vendedores/as: artesanato, licores, ornamentos, frutos, tarot, massagens, pozinhos e pedrinhas contra o mal de inveja ou a favor do bem de amor. As possibilidades de negócio são grandes e algumas chegam a ser surpreendentes. A diversidade estende-se às línguas. Por lá ouvi castelhano, francês, árabe, alemão e algum português. Avé Bracara “Babel” Augusta.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no Outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo

terça-feira, 26 de maio de 2009

Já cá canta

O actor/encenador com os olhos mais bonitos do Porto foi hoje até aos algarves e trouxe um título no bolso. Parabéns, N.!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Tomar Templária

O 67º capítulo de O Pêndulo de Foulcault é quase totalmente dedicado ao Convento de Cristo, em Tomar. Eco começa assim: Se eu conseguia imaginar um castelo templário, assim era Tomar. Sobe-se por uma estrada fortificada que bordeja os bastiões exteriores, de seteiras em forma de cruz, e respira-se uma atmosfera cruzada desde o primeiro instante. (p. 258)
Fiquei com muita vontade de lá ir. Ainda não conheço. Imperdoável.

Conexão

A conexão altera a perspectiva.

Umberto Eco, O Pêndulo de Foucault, p. 255

domingo, 24 de maio de 2009

Divisor de águas

Há dias, de uma qualidade raríssima, em que compreendemos que nada será como antes.

sábado, 23 de maio de 2009

Oportunismo

Vincent Van Gogh, A Cadeira de Gauguin (1888)

E há aqueles que gostam de se sentar em cadeiras quentes. Mas não numa coisinha monástica como a do Van Gogh. Não. Preferem uma cadeirinha a la Gauguin.

domingo, 17 de maio de 2009

Da mordomia ao matadouro

Há restaurantes neste nosso globo em que é oferecida uma especialidade de degustação zen: bife Kobe. O naco de carne provém de um bovino tratado com aveia e cerveja, massajado diariamente, que descansa sobre tapetes térmicos e que ouve música erudita ao longo do dia. Tudo em nome de músculos descontraídos e maciez no palato.
Apetece-me dizer: aproveitem bem a mordomia que o matadouro está ao virar da esquina. E de circunstâncias destas, não se podem queixar apenas os bovinos.

sábado, 16 de maio de 2009

Sob a chuva (versão dupla)

August Macke, Sob a Chuva (1912)

Hoje descobri este quadro extraordinário de August Macke. Nem de propósito, ela cai lá fora. Ou a despropósito, já estamos em Maio (!)

Espaço

Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.

Cecília Meireles

(embora às vezes não saiba muito bem o que desenhar... ou se sou eu a empunhar o lápis...)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Em espera

Martin Johnson Heade, Approaching Thunder Storm (1859)
De que estará ele à espera? Do remador ou da tempestade? Suponho que espere o remador. Ninguém espera uma tempestade de forma tão plácida.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

For light does the darkness most fear

"Hands", da Jewel

If I could tell the world just one thing
It would be that we're all OK
And not to worry 'cause worry is wasteful
And useless in times like these
I won't be made useless
I won't be idle with despair
I will gather myself around my faith
For light does the darkness most fear

My hands are small, I know
But they're not yours, they are my own
But they're not yours, they are my own
And I am never broken

Poverty stole your golden shoes
It didn't steal your laughter
And heartache came to visit me
But I knew it wasn't ever after

We'll fight, not out of spite
For someone must stand up for what's right
'Cause where there's a man who has no voice
There ours shall go singing

My hands are small I know
But they're not yours, they are my own
But they're not yours, they are my own
I am never broken

In the end only kindness matters
(...)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sim, demasiados

You know, there's too many buttons in the world. There's too many buttons and they're just… There's way too many just begging to be pressed, they're just begging to be pressed, you know?

Ambivalente

Vida Interrompida (1999), de James Mangold
Susanna (Winona Ryder): I'm ambivalent. In fact that's my new favorite word.
Dr. Wick (Vanessa Regrave): Do you know what that means, ambivalence?
Susanna: I don't care.
Dr. Wick: If it's your favorite word, I would've thought you would...
Susanna: It *means* I don't care. That's what it means.
Dr. Wick: On the contrary, Susanna. Ambivalence suggests strong feelings... in opposition. The prefix, as in "ambidextrous," means "both." The rest of it, in Latin, means "vigor." The word suggests that you are torn... between two opposing courses of action.
Susanna: Will I stay or will I go?
Dr. Wick: Am I sane... or, am I crazy?
Susanna: Those aren't courses of action.
Dr. Wick: They can be, dear - for some.
Susanna: Well, then - it's the wrong word.
Dr. Wick: No. I think it's perfect.